terça-feira, 25 de novembro de 2014

De mãos dadas...

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes
esperanças.
Entre eles, considero a enorme 
realidade.
O presente é tão grande, 
não nos afastemos,
não nos afastemos muito, vamos
de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher,
de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer,
a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou
cartas de suicida, 
não fugirei para as ilhas nem serei 
raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria,
o tempo presente,
os homens presentes,
a vida presente.


                                                            Carlos Drummond de Andrade

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